Ao invés de projetos-tipo de habitação já definidos ou da simples reconstrução do que havia, o ateliermob/cooperativa "Trabalhar com os 99%" tem apostado numa reabilitação das casas feita em conjunto com as pessoas, respondendo às suas necessidades e expectativas, em habitações permanentes cuja intervenção tinha sido entregue ao fundo da União das Misericórdias e Fundação Calouste Gulbenkian, disse à agência Lusa o sócio fundador do atelier, Tiago Mota Saraiva.
A equipa conta com 15 arquitetos, "um batalhão de engenheiros" e uma antropóloga, que faz um trabalho de maior proximidade com as pessoas, num processo sempre feito com a participação das famílias afetadas.
De acordo com o arquiteto, no início da intervenção, as famílias queriam apenas "a casa igual tal como estava", numa espécie de "reação traumática" dos primeiros instantes. Mas, passados dois meses, começaram a dar sugestões de alterações à habitação, para que fosse "uma casa onde gostassem mais de viver e que tivesse mais qualidade do que a casa feita anteriormente".
"Esse trabalho [de participação] faz parte de uma reabilitação da pessoa. Está a projetar no futuro, a imaginar-se a viver numa casa nova e a esquecer o evento terrível", procurando desenhar uma casa com "mais qualidade, mais quente, mais aprazível", realçou.
Segundo Tiago Mota Saraiva, há pedidos para mudar as janelas, fazer apenas a casa em piso térreo, ou garantir corrimãos e rampas face a questões de mobilidade de algumas das pessoas afetadas.
Para a reconstrução destas casas, teve-se também atenção àquilo que era o quotidiano e dinâmicas das famílias, onde os galinheiros, o anexo para as alfaias, o forno a lenha, o fumeiro ou o local onde estava a horta também são tidos em conta, explanou.
As sete casas (três em Figueiró dos Vinhos, três em Pedrógão Grande e uma na Pampilhosa da Serra) foram entregues à cooperativa em setembro e a maioria vão entrar em obra em janeiro, acrescentou.
"Nenhum dos proprietários que está connosco está com a tensão dos 'timings'", frisou, referindo que as intervenções estão a demorar mais tempo porque quiseram "acrescentar qualidade às casas".